2005/05/29

Uma nova era na profissão de informação em Portugal

No CTDI 2005 participaram alguns dos nomes mais conhecidos na área da ciência da informação, da gestão de informação, da engenharia informática e da consultoria de informação em Portugal, e, também, no mundo. Foram colocadas inúmeras questões (e apontadas soluções em boa parte dos casos), algumas ainda sem resposta e que constituem óptimos pontos de partida para acções de investigação, de entre as quais quero salientar aquelas que Fernanda Ribeiro deixou no ar – a necessidade de repensarmos a multiplicidade de normas que temos, a sectorização em compartimentos estanques da prática arquivística e da biblioteconómica, e quiçá (ainda!) da documentação num terceiro pólo. De facto, já há 9 anos atrás, quando trabalhei como consultora num arquivo histórico, me tinha interrogado sobre a necessidade de espartilhar os profissionais de informação em mundos aparentemente tão distintos, e que assim o parecem mercê das normas que os regem e de alguns procedimentos, e pela ausência de comunicação entre eles (sendo esta causa e conseqüência da prática profissional distinta). É certo que esta sectorização resulta, tal como referiu Malheiro da Silva, do facto de a ciência da informação, a teorização por assim dizer, ter surgido muito depois da prática profissional. Foi notório, também, pela evocação de outros tempos, ainda recentes, que a convivência entre especialistas de informática e especialistas de informação nem sempre foi pacífica e cooperante. À parte a tendência que sempre pode existir entre profissionais de diversas áreas para a imposição ao outro grupo profissional, o facto é que o mundo mudou e a atitude das pessoas também. Numa sociedade em que tanto se fala de globalização e dos seus perigos e vantagens, constitui um dado adquirido que a Internet veio aproximar formas de actuar e modos de pensar. A intercomunicabilidade constante proporcionada por toda uma panóplia de novas tecnologias, quase inexistentes nos anos 80 do século passado quando se davam os passos decisivos da informatização dos serviços de informação em Portugal, veio permitir que os especialistas de várias áreas troquem opiniões, criem projectos em parceria e adquiram novas competências. Por outro lado, a criação de graus académicos em ciência da informação e em gestão de informação em Portugal conduziu ao aparecimento de uma nova geração de profissionais de informação que entra no mercado devidamente habilitada a nível tecnológico. Estes profissionais têm as competências necessárias para poderem trabalhar sem dependências de outros grupos profissionais (como bem frisou Joaquim Sousa Pinto), e conhecimentos científicos e técnicos que lhes permitem compreender melhor os arquétipos mentais daqueles e, assim, saberem trabalhar em parceria. É claro que conflitos podem surgir sempre, pois a competição é uma realidade que não é exclusiva do mercado de trabalho, e os conflitos de personalidade podem ocorrer sempre nas relações interpessoais. Mas, não serão extensíveis a um grupo profissional. Porém, há ainda uma batalha a travar para que sejamos reconhecidos e respeitados como profissionais: a da promoção da imagem do profissional de informação na sociedade portuguesa. E essa tarefa deveria ter sido já cumprida pelas associações profissionais da área. Esperemos que o inquérito nacional realizado para o Observatório da Profissão de Informação-Documentação (OPI-D) venha a ter conseqüências práticas imediatas conduzindo à elaboração de uma estratégia de marketing, ao lançamento de uma campanha publicitária em órgãos de comunicação social (dependendo da verba necessária), ou à adopção de outras formas de promoção julgadas eficazes. Em definitivo, estamos numa nova era da profissão de informação em Portugal.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vi agora o teu blog. Parabéns. A ciência da informação sai valorizada. Já agora vê tambem o blog da cadeira de edição e marketing: bibvirtual.blogs.sapo.pt
Um abraço
Regedor

Maria Manuel Borges disse...

É fundamental que se repensem os princípios sobretudo em face de novas realidades. A teoria é indissociável de uma prática esclarecida, e, por essa razão, mais do que respostas é preciso suscitar questões. Espero que o teu blog sirva, entre outros, para atingir estes objectivos.
Um abraço